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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Entre o aceno e o aperto de mão


Por Michel Oliveira (texto e fotos)

Um figurino que utiliza uma tonalidade próxima a da pele simula uma espécie de nudez. Assim quem está na platéia faz suas primeiras leituras: espera algo tátil, um contato mais próximo, uma sensação de intimidade. Essa foi a estratégia utilizada pelo Grupo Rosa Negra na montagem do espetáculo ‘Gesto’, apresentado na VI Semana Sergipana de Dança.

O vestido cor de pele é bem resolvido, fluido, não atrapalha os movimentos. Mas não é apenas o figurino que compõe um espetáculo. O cenário é um dos elementos que mais chamam a atenção. É bastante simples: estruturas de madeira sustentam cortinas da mesma cor das roupas, a disposição desses elementos no palco é acertada. Para quebrar a monotonia do bege, outras três armações semelhantes são trazidas a cena durante a apresentação, só que sustentando cortinas coloridas. Contas plásticas e correntes de metal descem em cascata pelos suportes, acrescentando brilho ao cenário.

O resultado é interessante: cortinas atrás da grande cortina do palco. Seria metalinguagem ou insinuação da proposta mimética da apresentação? O cenário é utilizado na coreografia, não é um elemento estático, afinal estamos falando de dança não é mesmo?

Essas cortinas estão bem distribuídas no palco, a diagonal formada por elas, em uma das partes da apresentação, é bem executada. Mas poderiam ter sido utilizadas de forma mais criativa, utilizando a semi-transparência do tecido para criar um clima menos explícito, já que a luz não era pontual.


Mas o que poderia ter sido bem amarrado se perde muito devido à trilha sonora. A edição deixou lacunas, há momento “em branco”, que prejudicam a coreografia. Não há uma gradação, as músicas passam como um cd de retalhos. Não há unidade. O fato de algumas músicas serem cantadas prejudica ainda mais, uma vez que a proposta era ressaltar o gesto. A fala, ainda que em outro idioma, chama mais a atenção que o movimento. Não é fácil expressar conceitos através de uma coreografia, então, tudo que possa desviar a atenção do foco principal deve ser evitado. Talvez essa deficiência sonora tenha prejudicado a sincronia de  alguns movimentos.

Apesar desse problema com a trilha, a coreografia tem momentos bons, que mostram a capacidade técnica e o preparo das bailarinas: giros bem executados, utilização de novos eixos de sustentação para o corpo e a variação dos movimentos, inclusive com mudanças de direção.

‘Gesto’ tem momentos, e elementos de destaque, mas ainda é necessário ajustes. O nome do espetáculo está de certa forma descolado, uma vez que não há uma representação mímica. O gesto evoca uma encenação, uma representação mais teatral. É difícil apreender o conceito utilizado para montagem, horas confuso como um aceno, horas firme como um aperto de mão.

6 comentários:

Maíra Magno disse...

ai andre, que deselegante
quem produz expoem esta sujeito á criticas, positivas, negativas, de pessoas capacitadas ou as vezes nem tanto
é um risco que todo artista assume quando vai á público
se estamos procurando um espaço profissional na dança de sergipe
teremos que saber viver com as críticas
faz parte

Leandro Santolli disse...

André ?
obrigado pelo comentário e pelo acesso.

Maíra Magno disse...

André vc foi agressivo e sabe que foi
eu, adorei o espetáculo, mas ninguem tem a obrigação de gostar
opinar é um direito que devemos respeitar
vc opinou, sobre o comentario do crítico, o crítico sobre o espetáculo
é um direito de ambos
mas podemos ser mais respeitosos uns com os outros

Maíra Magno disse...

Bom não entrarei nesses méritos
mas ainda acho que temos que aprender a lidar com críticas
quem se expõem esta sugeito a elas
é fato, na semana de dança que eu e meus colegas trabalhamos feito camelos para ter o sucesso que esta tendo e nosso foco sempre foi a profissionalização da cena
e isso inclui criticas e críticos
e nao da pra esperar so comentarios positivos
isso é querer se manter no amadorismo

Ewertton Nunes disse...

Não cabe querer destruir a beleza das ROSAS...

"Um figurino que utiliza uma tonalidade próxima a da pele simula uma espécie de nudez." Essa análise do figurino é tão simplória que chega a ser desnecessária, afinal, onde é que um vestido com várias camadas e com efeito cênico tão interessante que simular a nudez? O nu com certeza não foi o que inspirou a sua concepção.
"Assim quem está na platéia faz suas primeiras leituras: espera algo tátil, um contato mais próximo, uma sensação de intimidade". Quando você escreve isso, acredito eu, que esteja falando das suas expectativas, certo? Sabemos nós o que o público espera? E que intimidade tão esperada é essa? Das intérpretes entre si? Com a platéia? Clareza!
"Essa foi a estratégia". Estratégia? Seria então o Grupo Rosa Negra uma facção extraterrena que pretende dominar a Terra?
"Mas o que poderia ter sido bem amarrado se perde muito devido à trilha sonora. A edição deixou lacunas, há momento “em branco”, que prejudicam a coreografia..." O que é "amarrar" para você? Colar músicas? Silêncio ou não, é uma escolha do grupo e talvez por isso mesmo tenha te causado estranhamento. Muitas vezes não sabemos lidar com ele... Achamos que devemos falar, ainda que não sejamos aptos para tal coisa...
Eu precisava colar este parágrafo inteiro, pois, existe aí tanto absurdo nas colocações que chega a ser ingênuo...
" Não há uma gradação, as músicas passam como um cd de retalhos. Não há unidade. O fato de algumas músicas serem cantadas prejudica ainda mais, uma vez que a proposta era ressaltar o gesto. A fala, ainda que em outro idioma, chama mais a atenção que o movimento. Não é fácil expressar conceitos através de uma coreografia, então, tudo que possa desviar a atenção do foco principal deve ser evitado. Talvez essa deficiência sonora tenha prejudicado a sincronia de alguns movimentos..."
No nosso cotidiano, gesto e fala não estão dissociados, são complementos da comunicação... Ainda bem que não existe uma gradação na trilha sonora, obrigado Rosa Negra, por não nos deixar cair no marasmo, afinal, após um determinado tempo passamos a não nos fixar naquilo que é linear!
É impossível que a voz do cantor chame mais atenção do que o movimento, a não ser que todos os que estavam na plateia sejam poliglotas... As intérpretes possuem técnica e expressividade suficiente para complementar a trilha sonora e prender a atenção do espectador.
Eu tenho uma dúvida: você já coreografou? Pois a afirmação de que não é fácil passar conceito através da dança, pode ser feita por quem cria dança. Para pessoas sem fundamentação deve ser realmente difícil e não é o caso das profissionais do Grupo analisado aqui.
"Apesar desse problema com a trilha, a coreografia tem momentos bons, que mostram a capacidade técnica e o preparo das bailarinas: giros bem executados, utilização de novos eixos de sustentação para o corpo e a variação dos movimentos, inclusive com mudanças de direção."
PARABÉNS meninas!!! Vocês sabem dar piruetas!!! ÊÊÊÊ!! Fizeram as aulas de clássico direitinho sabem utilizar todos os lados e inclusive as diagonais! ÊÊÊÊÊ! Mas tenho certeza que vocês preferiam que a pesquisa de movimento fosse o foco analisado... Devem estar cansadas destas avaliações previsíveis e que nada acrescentam, né?
"Gesto’ tem momentos, e elementos de destaque, mas ainda é necessário ajustes. O nome do espetáculo está de certa forma descolado, uma vez que não há uma representação mímica. O gesto evoca uma encenação, uma representação mais teatral. É difícil apreender o conceito utilizado para montagem, horas confuso como um aceno, horas firme como um aperto de mão." Michel Oliveira, aspirante a crítico de dança veja só...

Ewertton Nunes disse...

PRESTE ATENÇÃO! "Mímica é a arte de exprimir os pensamentos e/ou os sentimentos por meio de gestos. É, portanto, uma classe de sematologia. Um mímico é alguém que utiliza movimentos corporais para se comunicar, sem o uso da fala. A mímica deve ser distinguida da comédia silenciosa, na qual o artista é um personagem sem jeito em um filme ou ato" A mímica é outra forma de expressividade, feita por mímicos, a utilização do objeto de estudo na dança pode ou não seguir uma linha previsível ( mais uma vez parabéns ROSA NEGRA por não cair nos clichês!) Sabemos que a dissolução de outras linguagens no movimento que estudamos é o que determina uma verdadeira identidade gestual.
E tem mais... Carolina Natureza, pesquisadora, mestra e muitas coisas mais em dança... Você sabe o que faz e acredite, fizeram bem feito! Sem mais... Espero que não levemos nada para o lado pessoal (apesar de não conhecer o crítico Michel Oliveira, ainda).