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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Lata d'água na cabeça

Por Leandro Santolli

Retratar a vida das carregadoras de água do rio é mote do espetáculo ‘Estandarte’ da Cia. DançArt de Sergipe. A priori espera-se um espetáculo que retrate a luta dessas mulheres em suas comunidades e afins, que explore seu gestual, cantos, etc. Mas a falta de clareza na construção do espetáculo impossibilita este entendimento.

O espetáculo começa visualmente muito bem, com a diversidade de perfis femininos retratados no palco, as lavadeiras, a carregadora de água, a religiosa e por que não dizer “santa”. As bailarinas sentem e transmitem estes personagens com muita inteligência nos dando a idéia de um espetáculo com bastante potencial, principalmente por conta da trilha que dialoga com a idéia exposta. Porém talvez por falta de direcionamento o espetáculo cai num marasmo, e isto se deve inclusive pela falta de atenção aos detalhes e o quanto estes fazem a diferença no palco.

Coreograficamente não é rico, por hora falta um entendimento dos bailarinos, principalmente por que na tentativa de muito representar, a canastrice vem à tona. Falta um direcionamento artístico. O elenco tem bastante presença cênica, mas não convence em suas ações, não podemos culpá-los por isso, e é claro que uma direção, um olhar crítico de fora do grupo faria bastante diferença.

O figurino assinado pelo Atelier Mundo da Lua é bonito, mas bem longe disto lavadeiras não usariam roupas tão brancas, poderia passar despercebido mas estamos tratando de um conceito definido e defendido pela Cia em sua pesquisa. Na segunda parte do espetáculo a saia branca é trocada por outra nas tonalidades de dourado e vermelho, nos fazendo desacreditar ainda mais no que está sendo proposto.

O desenho do figurino não é ruim, mas não cabe a proposta de “encenação”. Assim também é o macacão collant pérola usado pelo bailarino, fugindo e destoando completamente de todo o grupo e é muito difícil encontrar um significado coerente para o mesmo.

O cenário é simples, com tecidos de chita, o uso ou não do mesmo teria o mesmo efeito, e os adereços de cena poderiam também fazer jus ao que é proposto, afinal lavadeiras lavam roupas, não somente tecidos. Além das latas, supostamente d’água, estarem leves ao extremo. Claro que isto embeleza a cena, mas se existe uma pesquisa por traz, automaticamente tudo deve ser pensado e questionado.

A trilha poderia ser bem mais estudada, e não é difícil criar uma trilha para um espetáculo com esta concepção. Mônica Salmaso, Denize Aragão, Léo Moraes, Elza Soares, Radamés Gantalli, Victor Assis Brasil compõe a escolha da Cia. Por vezes acertam na escolha, mas o uso de muitas músicas de MPB como Maria Rita faz com que o espetáculo caia no tédio, talvez músicas certas para o conceito de espetáculo errado.

O que dizer de Fascinação para uma cena de lavadeiras? Difícil encontrar algum sentido, mas por sorte Elza Soares nos salva deste momento. Se Renata Rosa estivesse na trilha, ou até mesmo as cantoras da Mussuca de Laranjeiras, certamente esta seria bem mais rica, mas vale ressaltar que o fade de uma canção para outra foi muito bem editado, imperceptível até.

A iluminação do espetáculo assinada por Henrique é na sua totalidade muito boa, é o que o espetáculo tem de melhor, e ganha muito por isto, é notório que o iluminador entendeu o mote do trabalho e executou de maneira formidável.

O ponto mais alto do espetáculo é a cena final, as lavadeiras entoando seus cânticos enriquecem o trabalho, e a presença cênica dos bailarinos vem à tona. O final do espetáculo de fato emociona e convence, é muito estruturado e inteligente, fica nítido que o tal estandarte é a lata d’água. O complicado é entender se o estandarte neste caso está associado a um troféu que poderia ser exibido com orgulho.

Entre o aceno e o aperto de mão


Por Michel Oliveira (texto e fotos)

Um figurino que utiliza uma tonalidade próxima a da pele simula uma espécie de nudez. Assim quem está na platéia faz suas primeiras leituras: espera algo tátil, um contato mais próximo, uma sensação de intimidade. Essa foi a estratégia utilizada pelo Grupo Rosa Negra na montagem do espetáculo ‘Gesto’, apresentado na VI Semana Sergipana de Dança.

O vestido cor de pele é bem resolvido, fluido, não atrapalha os movimentos. Mas não é apenas o figurino que compõe um espetáculo. O cenário é um dos elementos que mais chamam a atenção. É bastante simples: estruturas de madeira sustentam cortinas da mesma cor das roupas, a disposição desses elementos no palco é acertada. Para quebrar a monotonia do bege, outras três armações semelhantes são trazidas a cena durante a apresentação, só que sustentando cortinas coloridas. Contas plásticas e correntes de metal descem em cascata pelos suportes, acrescentando brilho ao cenário.

O resultado é interessante: cortinas atrás da grande cortina do palco. Seria metalinguagem ou insinuação da proposta mimética da apresentação? O cenário é utilizado na coreografia, não é um elemento estático, afinal estamos falando de dança não é mesmo?

Essas cortinas estão bem distribuídas no palco, a diagonal formada por elas, em uma das partes da apresentação, é bem executada. Mas poderiam ter sido utilizadas de forma mais criativa, utilizando a semi-transparência do tecido para criar um clima menos explícito, já que a luz não era pontual.


Mas o que poderia ter sido bem amarrado se perde muito devido à trilha sonora. A edição deixou lacunas, há momento “em branco”, que prejudicam a coreografia. Não há uma gradação, as músicas passam como um cd de retalhos. Não há unidade. O fato de algumas músicas serem cantadas prejudica ainda mais, uma vez que a proposta era ressaltar o gesto. A fala, ainda que em outro idioma, chama mais a atenção que o movimento. Não é fácil expressar conceitos através de uma coreografia, então, tudo que possa desviar a atenção do foco principal deve ser evitado. Talvez essa deficiência sonora tenha prejudicado a sincronia de  alguns movimentos.

Apesar desse problema com a trilha, a coreografia tem momentos bons, que mostram a capacidade técnica e o preparo das bailarinas: giros bem executados, utilização de novos eixos de sustentação para o corpo e a variação dos movimentos, inclusive com mudanças de direção.

‘Gesto’ tem momentos, e elementos de destaque, mas ainda é necessário ajustes. O nome do espetáculo está de certa forma descolado, uma vez que não há uma representação mímica. O gesto evoca uma encenação, uma representação mais teatral. É difícil apreender o conceito utilizado para montagem, horas confuso como um aceno, horas firme como um aperto de mão.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

IV Semana de Dança reúne produções locais

Entre os dias 27 de abril e 2 de maio, o Teatro Tobias Barreto recebe a IV Semana Sergipana de Dança. O evento em comemoração ao mês da dança e ao Dia Internacional da Dança, 29, reúne grupos dos mais variados estilos, divulgando as produções existentes no estado. A entrada é gratuita.

Confira a programação:

27/04 (terça)
19h - Conferência de abertura:
Profª Lú Spinelli (Studium Danças) – Dança Moderna X Dança Contemporânea
Profª Ms. Ana São José (Universidade Federal de Sergipe) – Um estudo sobre o Corpo na Dança
Profª Dorinha Teixeira (Academia Sergipana de Ballet) – Explanação sobre sua trajetória em dança
21h30 - (Palco) Espetáculo A Arte do Movimento - Nelson Santos Cia de Dança

28/04 (quarta)
19h30 - (Foyer) Michele Pereira – “Dança Afro”
20h - (Palco) Espetáculo Reverso - Cubos Cia de Dança
21h - (Palco) Espetáculo Gesto - Rosa Negra Grupo de Dança

29/04 (quinta)
19h30 - (Foyer) Janaína Veloso “TAP Dance – Sapateado” e Claudia Maia “Dança de Salão”
20h - (Palco) Espetáculo Estandarte da Vida - Cia DançAr’t
21h - (Palco) Espetáculo Emoções - Entre nós Cia de Dança

30/04 (sexta)
19h30 - (Foyer) Rejane Cruz - “Dança Flamenca”
20h - (Palco) Espetáculo Terra - Juventus Cia de Dança
21h - (Palco) Espetáculo Faces - Grupos Irmãos de Rua e Ara Dance

01/05 (sábado)
19h30 - (Entrada TTB) - Julieta Menezes – Performance “Corpo”
20h - (Palco) - Espetáculo Raks el Shaabi - A Dança do Povo - Cia de Danças Maíra Magno
21h - (Palco) - Espetáculo Casulo - Cia Contempodança

02/05 (domingo)
19h - (Foyer) - César Leite - Performance “A Mulher Peixão”
20h - (Palco) - Espetáculo D’Vida - Catarse Grupo de Dança
21h - (Palco) - Espetáculo Perfume - Espaço Liso Cia de Dança

terça-feira, 20 de abril de 2010

Cinco "meninos"


Por Leadro Santolli
Foto: Arquivo da Cubos

A aparência infantil esconde a grandiosidade profissional que os “meninos” da Cubos levam consigo. Mais do que sua maneira de dançar eles fizeram de seu espetáculo ‘Cubos ao cubo’ um verdadeiro manifesto, inventando uma estética única, especial, na qual estar ou não na “moda” não faz a menor diferença.

É notória a sede que a companhia tem de imaginar e trazer o novo. É a diversidade popular brasileira. É um delírio visto como poesia, a estética como expressão. Mas para além do espetáculo o que mais encanta é a coletividade, a consciência de grupo e a dedicação a arte a que os “meninos” se propõem. Suas manifestações e críticas sociais estão disfarçadamente escondidas em seus espetáculos e cabe somente ao publico entender a simbologia usada e assim fazer sua reflexão pessoal.

A Cubos nos presenteia sempre com uma arte fora do obvio e de grande fascínio. No processo de trabalho fiquei extasiado após nossa primeira conversa margeada por tantos ensinamentos e discursos, o que pude constatar também numa oficina pós-espetáculo onde foram mostrados os processos de criação, por sua vez tão portentosos, imensos, construídos logo por cinco “meninos”.

Comovi-me por entender que estava diante de inventores artísticos que muito farão e que tem uma história fantástica a ser contada. Vejo revistas e críticos cobrando que se faça coisa nova, e  de fato os artistas em Sergipe têm procurado fazê-las. O problema é que quando eles chegam com estas novas os veículos de comunicação dizem que não é o “perfil”. Talvez a comunicação é que precise estar mais adaptada ao que é novidade, e isso fica bem claro quando vemos a batalha da Cubos e de tantas outras companhias espalhadas pelo estado a procura de espaço.

Em dado momento de nossa conversa, nos 45 minutos que antecediam o espetáculo ‘Reverso’, pude registrar a preocupação que um tem com o outro, isto inclui os técnicos e as pessoas envolvidas no trabalho, a exemplo de Altair Santo, figurinista do espetáculo, que compartilhava conosco desta troca de experiências. 

Talvez este seja o principal alicerce da Cubos: “respeito, respeito e respeito”, principalmente porque no âmbito de artes o que mais se tem crescido é o ego, ao contrário do profissionalismo. Repetidas vezes me veio à memória o célebre ensinamento de Stanislavski: “ame a arte em você e não você na arte”.

Depois da maratona de espetáculos e da oficina, a vontade que se tem é de abraçá-los  e parabenizá-los. Mas diferente disto meu desejo maior, e assim o fiz, foi agradecer pela riqueza de informações, pela ousadia na arte, pela dedicação e principalmente por me fazer entender mais uma vez que estes cinco “meninos” são, sem dúvida alguma, um dos maiores representantes da dança neste estado.

A Cubos é uma usina de criação que nunca para e, com os sentidos fervendo, nos levam aos caminhos de uma arte inteligente. Seu maior ensinamento é o valor do trabalho coletivo. Isabele, Júlia, July Ellen, Rodolpho e Viviane: cinco “meninos" que vivem da invenção. A bacia, o apito, a varinha de condão, o vestido, a máscara. Tudo, em suas mãos, é matéria-prima, de susto e beleza.

domingo, 18 de abril de 2010

Direito ou avesso?


Por Michel Oliveira
Foto: Fábio Pamplona

Não se pode dizer que a Cubos Companhia de Dança amadureceu com o espetáculo ‘Reverso’. A companhia já estava madura desde as montagens anteriores. Os cinco bailarinos se multiplicam no espetáculo ‘Multipleto’. O figurino é etéreo, leve. A trilha é cativante e a variedade dos movimentos mostra o preparo de Rodolpho Sandes, Isabele Ribeiro, Julia Delmondes, July Ellen Lázaro e Viviane Gonzaga. E se a companhia é formada por cubos encontraram um excelente encaixe, a sintonia é nítida.

Mas em ‘Reverso’ a história é outra. Procura nuances que muitas vezes passam despercebidas, apesar de serem explícitas. São as lavadeiras no rio, o assuar de nariz, a ‘sibiteza’ e a ‘munganga’. A vida e a morte em contínua coreografia. Um Nordeste de dramas e alegrias. De um povo que sabe chorar, mas que também sabe fazer festa.  De namoricos na janela. Cortejos e procissões. Som de pífano, de maracatu, de pisada de pé. E como não podia faltar: água.

O figurino, assinado por Altair Santo, ganha fluidez com a precisão do corte e com o uso de forros leves, como tules coloridos. As cores são neutras, preto, branco e cru, com exceção do figurino vermelho, feito de malha trabalhada com textura de fitas de cetim. Ruptura necessária para evitar o previsível.

No fundo do palco uma cascata brilhante desce do teto até o chão. Uma cachoeira de anéis de garrafa pet, abuso da cenografia que enche os olhos. Estrelas do mesmo material se acendem com um foco de luz. A iluminação é precisa, focos em pontos específicos do palco. Em outros momentos feixes de luz são projetados, nunca revelando o todo. Há sempre uma penumbra envolvendo os movimentos. A trilha sonora é um passeio pelo repertório popular, de um nordeste que se expande além das fronteiras.

O espetáculo pretende fazer uma desconstrução do Nordeste, mostrar seu avesso. Mas o que ele consegue, e de forma muito acertada, é retratar. Um retrato coreografado de jeitos de ser. Sem caricaturas, nem estereótipos. A pretensão não é fazer um tratado sobre o Nordeste, mas mostrar um olhar, um recorte. Direito ou avesso? ‘Reverso’.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Casamento perfeito ou quase isso

Por Michel Oliveira (texto e fotos)

É uma grande ousadia juntar o humor refinado de Machado de Assis, os conflitos psicológicos de Tchekhov e as crises contemporâneas de Eric Bogosian. Atrevimento que, nas mãos de qualquer um, podia ter custado ustar caro. Mas o diretor Celso Jr. conseguiu dominar a situação e junto com o Grupo Caixa Cênica deu formas ao espetáculo Felicidade Conjugal ou Quase Isso. O resultado de tal ousadia: Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, pré estréia no Teatro Tobias Barreto, curta temporada no Lourival Batista, apresentações confirmadas em Salvador. 

 Lição de Botânica

No palco Diane Veloso, Leila Magalhães, Frederico Lira, Denver Paraíso e Thiago Marques passeiam da comédia ao drama, falando de amor, dos devaneios, alegrias e tristezas da relação a dois. A abertura com ‘Lição de Botânica’, de Machado de Assis, é um grande acerto. A adaptação consegue fazer o público rir, com personagens carismáticos e situações jocosas, sem cair na graça vulgar. Diane Veloso se mostra madura, com um tempo de comédia bastante acertado. Denver Paraíso e Frederico Lira são o contraponto, regulam a cena com o ar ranzinza.

A Brincadeira

A releitura de ‘A Brincadeira’, de Tchekhov, tráz ao palco a densidade da literatura russa. Há uma ruptura. O riso não é mais o elemento principal. Ruptura necessária, pois mostra ao espectador que ele deve ficar atento. O espetáculo tem mais nuances do que possa aparentar. Leila Magalhães, que interpreta Nádenka, conseguiu captar a complexidade da personagem. Interpretação segura, compromissada, de quem sabe o que está fazendo. 

Um Tempero Mais Amargo

‘Um Tempero Mais Amargo’ de Eric Bogosian, contemporâneo em sua essência, talvez seja o menos compreendido. Muitos se prendem aos palavrões. Porém a cena é mais complexa. O diálogo revela problemas do tempo presente. A descoberta de uma traição de longa data as vésperas do casamento seria um ótimo melodrama, mas as sacadas de humor denotam o cinismo do homem contemporâneo, que aprendeu a rir de suas próprias desgraças. Thiago Marques com um personagem inicialmente passivo, mas que no final revela sua força, mostra um talento jovial a ser explorado.

Mas que seria de um bom roteiro e interpretações seguras sem um conceito estético? O aporte veio do teatro contemporâneo, onde menos é mais. A simplicidade proposital do figurino deixa claro que o foco está nos atores. A releitura das roupas de época, a discreta sensualidade da camisola de Nádenka, o vestido de noiva de Regina e o All Star nos pés se fundem de forma bastante acertada ao contexto proposto. Culpa de Roberto Laplane, também responsável pela maquiagem e pelo cenário, montado com objetos simples que lembram uma mudança no canto da casa. Objetos que podem ganhar outra configuração, como a cadeira que se transforma no trenó que desliza morro abaixo pela gelada montanha da imaginação. 

A iluminação marca de forma bastante discreta as passagens, completando o clima das cenas e ajudando na composição do cenário. A trilha sonora é fluida, aparece quando realmente é necessária. Mas como todo casamento tem algum problema, o cartaz do espetáculo parece está divorciado do resto. É muito posado e artificial. A arte final não é das melhores, com uma olhar nem tão apurado percebe-se que se trata de uma montagem.

É lamentável que a população aracajuana, que tanto reclama da inércia cultural, tenha deixado passar como outro qualquer, um espetáculo de forte senso estético, que apresentou uma proposta que ainda não havia sido experimentada pelas montagens feitas até então. Foram dez apresentações gratuitas, contado com a pré estréia. Quem cometeu o pecado de não ir que pague pra ver, quando o espetáculo voltar das temporadas fora do estado.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Cubos Cia. de Dança se apresenta no Tobias Barreto

 
Nos próximos dias 15 e 16, a Cubos Companhia de Dança comemora seu terceiro ano de existência com a apresentação Cubos ao Cubo. Durante os dois dias serão apresentadas três montagens da companhia: ‘Brincando’ (dia 15, às 20h), ‘Mutipleto’ e ‘Reverso’ (dia 16, às 21h).

Os ingressos estão à venda no stand montado no Shopping Jardins (em frente à loja Insinuante) e custam R$10 (inteira) e R$5 (meia). Quem for ao teatro vai conferir ainda uma mostra fotográfica, com trabalhos de Ítalo Prata, Mirna Garcia e Rosinha Teles. No dia 17, às 9 horas, a companhia ministrará gratuitamente uma oficina de dança contemporânea, as inscrições acontecem no stand de vendas.

Histórico

A Cubos Cia. de Dança nasceu em Aracaju, no ano de 2007, com a montagem do espetáculo ‘As quatro estações de um ser’. Atualmente é composta por Rodolpho Sandes, Isabele Ribeiro, Julia Delmondes, July Ellen Lázaro e Viviane Gonzaga, bailarinos com formação diversificada, o que confere variedade a companhia e singularidade aos espetáculos.

Em três anos de trabalhos ininterruptos a Cubos já fez mais de 30 apresentações oficiais, algumas delas fora do estado.  Em 2008 a companhia foi contemplada com o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna, pela montagem do espetáculo ‘Reverso’. 

domingo, 11 de abril de 2010

A humanidade da arte

“Quem cria é Deus; a arte é invenção”, afirma Celso

Por Leandro Santolli
Foto: arquivo pessoal

O [Síncope] entrevista o ator e diretor Celso Jr., bacharel em Artes Cênicas, mestre em Letras e Lingüística e professor do Núcleo de Teatro da Universidade Federal de Sergipe. Nascido no Rio Grande do Sul, viajou pelo país, mudou-se para Salvador nos anos 80, onde iniciou sua carreira artística. É o diretor do espetáculo ‘Felicidade Conjugal ou Quase Isso’, um dos contemplados com o prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, em cartaz no teatro Lourival Batista até o dia 14.

[Síncope] - O que você acha da proposta do blog?

Celso Jr. - “É uma iniciativa muito importante . Só discordo de uma coisa, não acredito que haja uma ‘essência’, um ‘âmago’ em nenhuma forma de arte. É como se o artista possuísse uma chave para a compreensão de sua obra, e que a função da crítica fosse tentar descobrir e desvendá-la. Eu discordo disso, a arte é um caminho de mão dupla: quem a constrói tem tanto poder de desvendá-la quanto quem a frui, inclusive porque não há nada a ser desvendado. Essa ilusão de ‘profundidade’ reside no discurso que se constrói sobre a arte e não na arte em si”.

[S] - Os próprios artistas criam esta situação quando afirmam: “a essência do meu trabalho está em”; “consiste em”?

C. Jr. - “Alguns destroem isso. Veja Renée Magritte, a frase: ‘Isso não é um cachimbo’ numa pintura de um cachimbo é reveladora dessa quebra de discurso. Os artistas que dizem que sua obra possui uma essência estão se apegando, desesperadamente, a uma noção de que o artista é um ser superior ao resto da humanidade. A própria utilização da palavra ‘criar’, para se referir a uma obra de arte, remete a algo divino. Quem cria é Deus; a arte é invenção. Fiquei pasmo quando uma repórter daqui me perguntou: ‘Qual a mensagem da peça? ’. Minha peça não é telegrama. Não traz nenhuma mensagem!”

[S] - Esse tipo de pergunta ainda é comum?

C. Jr. - “Só se for aqui em Aracaju. Há muito tempo que não se pergunta esse tipo de coisa em outros lugares”

[S] - E o que você respondeu?

C. Jr. - “Que a peça não tem mensagem. Ela discute alguns temas, mas que não traz uma resposta. O público é quem vai ter de pensar e procurar respostas. Se quiser respostas...”.

[S] - Por aqui existe uma idéia aqui de que toda peça tem de ter algo a ser contado e que seja muito claro. A idéia é fazer o publico não pensar, não ter uma reflexão. Engolir qualquer coisa, de qualquer forma e achar bom, bacana, "legal". Qual seu posicionamento frente a essa situação?

C. Jr. - “Se eu puder ajudar a desconstruir isso, ótimo. Eu proponho uma arte que dialogue com o público. Eu vi artistas várias vezes indagando-se sobre ‘o que é uma criação’, quando na verdade a indagação deveria ser  ‘o que é a invenção artística’. Como já disse quem cria é Deus.

[S] - Então você discorda da frase "nós criamos este espetáculo”?

C. Jr. - “No discurso coloquial não tem problema. Mas eu prefiro: ‘Nós produzimos este espetáculo’”.

[S]- Atualmente, o campo da performance artística se transformou em terra de ninguém, salvo raras exceções. Funciona mais ou menos assim: se faz pouco sentido, acontece em local alternativo, não tem ensaio, nem efeito, trata-se de performance, e o pior: quem faz acredita piamente na ‘essência artística’. Performance te agrada ?

C. Jr. – “A performance me interessa muito, mas não no domínio do teatro. Teatro é teatro; performance é performance, tem mais ligações estéticas com as artes plásticas. . Mas não se pode jogar tudo no lixo, tem muita coisa interessante, no campo da performance”

sábado, 10 de abril de 2010

Uma pausa ao ordinário

Por Leandro Santolli e Michel Oliveira

Não existe arte sem crítica. Isso é um fato. O maior pressuposto da arte é o incomodo interior. Passamos de fase. A arte não tem mais a função de trazer conforto, pelo contrário. As produções contemporâneas têm se debruçado sobre o que traz rupturas. Procura novos caminhos e rumos.

Sempre se ouve queixas da inércia cultural de nosso estado. Situação que em partes é verdade, uma vez que as produções locais ainda são abafadas pelo que vem de fora. Mas, há produções locais de qualidade? Temos realmente artistas que mereçam destaque? Sergipe tem público consumidor para a arte? Só com um olhar crítico podemos encontras as repostas.

Seria uma ousadia dois estudantes, um de jornalismo e outro de teatro, criar um blog de crítica? A resposta fica para os leitores. A crítica é inerente à produção da cultura, uma vez que a própria arte é uma forma de crítica.

O [Síncope] é o único blog voltado para a crítica de arte no Estado de Sergipe, e isso  traz uma responsabilidade imensa. Queremos que os leitores encontrem por aqui uma crítica pautada, uma análise das produções artísticas, uma fuga do ordinário que tomou conta dos jornais e revistas.

O crítico contemporâneo precisa aceitar os desafios que as novas perspectivas da arte trouxeram. A idéia é justamente esta, dialogar com os criadores, compreender os processos, fragmentar até chegar à essência. Só assim evitaremos o risco de confundir uma vanguarda com modismo e enaltecer modismos como novidade.

Este espaço está aberto. Esperamos comentários, sugestões e, obviamente, críticas. Entre em contato através do email: blogsincope@gmail.com.