Por Michel Oliveira (texto e fotos)
É uma grande ousadia juntar o humor refinado de Machado de Assis, os conflitos psicológicos de Tchekhov e as crises contemporâneas de Eric Bogosian. Atrevimento que, nas mãos de qualquer um, podia ter custado ustar caro. Mas o diretor Celso Jr. conseguiu dominar a situação e junto com o Grupo Caixa Cênica deu formas ao espetáculo Felicidade Conjugal ou Quase Isso. O resultado de tal ousadia: Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, pré estréia no Teatro Tobias Barreto, curta temporada no Lourival Batista, apresentações confirmadas em Salvador.
É uma grande ousadia juntar o humor refinado de Machado de Assis, os conflitos psicológicos de Tchekhov e as crises contemporâneas de Eric Bogosian. Atrevimento que, nas mãos de qualquer um, podia ter custado ustar caro. Mas o diretor Celso Jr. conseguiu dominar a situação e junto com o Grupo Caixa Cênica deu formas ao espetáculo Felicidade Conjugal ou Quase Isso. O resultado de tal ousadia: Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, pré estréia no Teatro Tobias Barreto, curta temporada no Lourival Batista, apresentações confirmadas em Salvador.
Lição de Botânica
No palco Diane Veloso, Leila Magalhães, Frederico Lira, Denver Paraíso e Thiago Marques passeiam da comédia ao drama, falando de amor, dos devaneios, alegrias e tristezas da relação a dois. A abertura com ‘Lição de Botânica’, de Machado de Assis, é um grande acerto. A adaptação consegue fazer o público rir, com personagens carismáticos e situações jocosas, sem cair na graça vulgar. Diane Veloso se mostra madura, com um tempo de comédia bastante acertado. Denver Paraíso e Frederico Lira são o contraponto, regulam a cena com o ar ranzinza.
A Brincadeira
A releitura de ‘A Brincadeira’, de Tchekhov, tráz ao palco a densidade da literatura russa. Há uma ruptura. O riso não é mais o elemento principal. Ruptura necessária, pois mostra ao espectador que ele deve ficar atento. O espetáculo tem mais nuances do que possa aparentar. Leila Magalhães, que interpreta Nádenka, conseguiu captar a complexidade da personagem. Interpretação segura, compromissada, de quem sabe o que está fazendo.
Um Tempero Mais Amargo
‘Um Tempero Mais Amargo’ de Eric Bogosian, contemporâneo em sua essência, talvez seja o menos compreendido. Muitos se prendem aos palavrões. Porém a cena é mais complexa. O diálogo revela problemas do tempo presente. A descoberta de uma traição de longa data as vésperas do casamento seria um ótimo melodrama, mas as sacadas de humor denotam o cinismo do homem contemporâneo, que aprendeu a rir de suas próprias desgraças. Thiago Marques com um personagem inicialmente passivo, mas que no final revela sua força, mostra um talento jovial a ser explorado.
Mas que seria de um bom roteiro e interpretações seguras sem um conceito estético? O aporte veio do teatro contemporâneo, onde menos é mais. A simplicidade proposital do figurino deixa claro que o foco está nos atores. A releitura das roupas de época, a discreta sensualidade da camisola de Nádenka, o vestido de noiva de Regina e o All Star nos pés se fundem de forma bastante acertada ao contexto proposto. Culpa de Roberto Laplane, também responsável pela maquiagem e pelo cenário, montado com objetos simples que lembram uma mudança no canto da casa. Objetos que podem ganhar outra configuração, como a cadeira que se transforma no trenó que desliza morro abaixo pela gelada montanha da imaginação.
A iluminação marca de forma bastante discreta as passagens, completando o clima das cenas e ajudando na composição do cenário. A trilha sonora é fluida, aparece quando realmente é necessária. Mas como todo casamento tem algum problema, o cartaz do espetáculo parece está divorciado do resto. É muito posado e artificial. A arte final não é das melhores, com uma olhar nem tão apurado percebe-se que se trata de uma montagem.
É lamentável que a população aracajuana, que tanto reclama da inércia cultural, tenha deixado passar como outro qualquer, um espetáculo de forte senso estético, que apresentou uma proposta que ainda não havia sido experimentada pelas montagens feitas até então. Foram dez apresentações gratuitas, contado com a pré estréia. Quem cometeu o pecado de não ir que pague pra ver, quando o espetáculo voltar das temporadas fora do estado.
1 comentários:
Pois é Michel, seu texto conseguiu captar a essência do verdadeiro ESPETÁCULO que foi esse trabalho. Olha que é difícil de algo tão simples sair pérolas tão brilhantes. Fico feliz de ver que o teatro sergipano ainda não se perdeu num marasmo tendencioso. Espero que o público siga o exemplo.
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