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segunda-feira, 28 de junho de 2010

'Tradilizada'




Por Leandro Santolli
Foto: Clotilde Tavares

A transformação das quadrilhas juninas tradicionais em direção a quadrilhas estilizadas revela uma faceta do debate sobre a globalização: o ressurgimento de culturas com bases locais ao invés da tão propagada padronização cultural. Mais do que isso, são manifestações culturais contemporâneas (re)significadas para atender as demandas de consumo da sociedade midiatizada onde se misturam as experiências tradicionais e modernas, chamando a atenção para sua beleza mas também por sua sua origem na periferia da cidade, próxima às experiências dos excluídos, dos mais marginalizados pela sociedade.

Nestes dias de 'período junino' fui convidado a integrar o corpo de jurados da fase classificatória do Concurso do Centro de Criatividade, um concurso tradicional que a 25 anos recebe em torno de 50 a 60. A minha observação se voltou para a forma de apresentação destas, que se exibiam para os demais jurados, e para as movimentações dos seus brincantes, do pessoal de apoio, dos familiares e das torcidas antes das apresentações.

Na concentração a ansiedade aumenta quando se aproxima a hora da exibição do grupo, uns soltam gritos de guerra, outros pedem proteção ao seu santo de devoção, repassam a coreografia e tudo sob os olhares dos familiares, amigos e torcedores. São jovens entre 16 e 35 anos, e que com muito sacrifício e contra todas as diversidades organizam, cada qual, o seu espetáculo. Cada quadrilha tem o seu enredo, a sua alegoria e a sua coreografia.

Mas por que tanto alarme e aversão quando se trata de quadrilha tradicional e estilizada ? É por que foge ao estilo considerado tradicional? Por que os seus figurinos e adereços não representam o matuto flagelado, ou o sertanejo típico Jeca Tatu? Ou ainda por que não é marcada em francês tupiniquim? A sociedade humana tece a sua cultura através dos mundos de experiências vividas em momentos históricos diferentes e de natureza paradoxal, justamente porque nada é igual no tempo e no espaço onde se manifestam as suas culturas, nem mesmo com a globalização isso é possível. Portanto, com a globalização cultural o que assistimos é o ressurgimento de culturas com bases locais ao invés da tão propagada padronização cultural. É evidente que são manifestações culturais contemporâneas (re)significadas para atender as demandas de consumo da sociedade midiatizada onde se misturam as experiências tradicionais e modernas.

Vejo nas “quadrilhas estilizadas”, ou mesmo nessas manifestações culturais o início de um novo gênero misto de dança e folguedo, tradicional e moderno, com grande potencial de comunicação desses jovens com o mundo de fora. A quadrilha campeã receberá o prêmio de R$ 2.000,00 e logo ali pertinho, no palco principal do Forró Caju se apresentam as bandas que, com certeza, receberam polpudos cachês. As quadrilhas gastam em torno de R$10.000,00 a R$ 40.000,00. São esses tratamentos desiguais entre os produtores das culturas tradicionais e os produtores das culturas midiáticas que precisam ser revistos, não só pelo poder público, mas pela sociedade como um todo. Não podemos continuar olhando meio atravessado as quadrilhas juninas contemporâneas, e sim tentar compreender as significações das redes cotidianas de sociabilidades desenvolvidas por esses grupos culturais nas suas comunidades e nos palcos de exibições.

É possivel perceber ainda  as quadrilhas estilizadas ou as tradicionais, nos festejos juninos atuais, como estratégia de inclusão social desses jovens que lutam o ano inteiro para organizar o espetáculo. É, sem dúvida, um novo formato de “grito” também da periferia para o centro, como se falassem para todos nós: “gente, estamos aqui!” Portanto, esses grupos de jovens deveriam receber maior apoio do poder público e privado, promotores do Maior São João do Mundo.